Redenção
[ O passado] Só lembro da boca aberta, de onde nasciam as moscas varejeiras, num sorriso de mero embuste, as flores ensanguentadas que todos respiravam a distâncias, o lado de dentro doía, as lágrimas eram sépiais, veio o vento, nele um sopro de catarse em fim.
Os aquários vazios das salas azuis, bailarinas em subterfúgios, nas molduras dos retratos moravam cupins que comiam migalhas de vida.
Procurei a música de um vinil, gosto de ouvi-lo quando há ameaça de chuva, sento-me a janela, vislumbro o céu com cores indecifráveis. Avisto nas calçadas os carvalhos antigos, acompanhados pelas cobiças dos percevejos, os únicos que não os abandonaram.
Sou a vórtice voyer, experimentando sabores alheios, os absurdos e as aflições, sempre em silêncio, na distância de asas.
Escondo-me dos espelhos, desde que sumiram as minhas rugas, cada uma que desaparecia criava um novo rasgo na alma, rasgo por onde penetravam as estrelas e, faziam meu relógio funcionar em sentido anti horário, a cada dia rejuvenesço mais.