MULHER FÊNIX

Emoções no armário arquivadas

Olhar absorto, cara de paisagem

A inspiração afogada na estiagem

Ilusões no dicionário esquecidas

Sorrisos a sete chaves guardados

Zero à esquerda, sem hierarquia

Hibernando como os ursos fazem

As estações indo e vindo sem valia

Nem a primavera me reconheceria

Medusa em combustão espontânea

Queimando eu virei pó, ao pó voltei

Fundindo os meus ossos e medulas

E de repente faz-se a luz! A luz!

Era um raio rasgando o temporal

Juntei os cacos, quebrei os tabus

Acordada, sacudir a poeira letal

Virei ônix, abrasador e reluzente

Fênix fêmea das cinzas renascida

Avistei o elo perdido chamejante

Achei vida que esteve escondida

Brotei, faisquei, floresci, frutifiquei

Enfim, reconhecia o meu manancial

E sob a luminosidade difusa dancei

No céu, eu refletida, aurora boreal