MUNDO PORTÁTIL

Juliana Valis



Quem abre a porta do mundo

Quando o desespero bate ?

Quem vislumbra no céu profundo

O abismo da civilização no aparte

Que o vento desenhou em nós ?




Sim, quem erguerá a mais sublime voz

Quando o mundo se transfigurar em noite ?

E, muito além do vácuo atroz,

O sonho mais veloz que o tempo açoite

Disser adeus às estrelas que simplesmente nós

Desenharmos nos êxtases das ilusões de outrora ?





Céus, quem abrirá a porta do mundo, na exata hora,

Quando o fim quiser, de qualquer modo, entrar ?

Quem nos dirá palavras que o tenro amor devora

Alimentando-se de sombras do mais belo mar ?





Quem, no fim, colocará na lápide do portátil mundo

A descrição precisa do abismo e das falsas verdades ?

Quem irá colorir as estrelas do céu que inundo

Com as águas trôpegas de sentimentos e calamidades

Públicas, privadas, coletivas, no céu profundo,

Que, um dia, apenas, perecerá ?




Não, não sei muito sobre qualquer coisa que há

Não sei sobre a Terra, não sei sobre a guerra,

Neste mundo portátil que a mentira encontrar

Contendo o eco que a verdade, então, berra

Sem medo de quem abrirá as portas do mar

Quando o fim quiser dormir bem aqui, em nós.


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