A hora da santidade II



Instante entre o desespero e a fé.
Não há mais nada, nem o mal prevalece.
Eu coloquei o medo à beira do caminho,
e a luz a um segundo de estar livre da prece.

O meu pessimismo já nem percebe,
o quão translúcida é a chama que sobe.
Feita de nada, quase um gemido puro
abarca o corpo e transporta a alma insone.

Estar nú de todo o adereço da  vaidade
que antes carregava em meu peito dolorido,
é deixar um mundo feito de brilho e fome
por uma penumbra de olhos cerrados, ocultos.

Riscos caligráficos no céu de azulejos,
uma língua morta, extinta, fagulha,
tornou-se o moteto a quatro vozes evaporado
que me viu quase morto, perfeito, reinventado
contemplando a face da divindade de meu corpo
com asas falsas, aos seu pés estirado.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 24/02/2012
Código do texto: T3517528
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