A hora da santidade II
Instante entre o desespero e a fé.
Não há mais nada, nem o mal prevalece.
Eu coloquei o medo à beira do caminho,
e a luz a um segundo de estar livre da prece.
O meu pessimismo já nem percebe,
o quão translúcida é a chama que sobe.
Feita de nada, quase um gemido puro
abarca o corpo e transporta a alma insone.
Estar nú de todo o adereço da vaidade
que antes carregava em meu peito dolorido,
é deixar um mundo feito de brilho e fome
por uma penumbra de olhos cerrados, ocultos.
Riscos caligráficos no céu de azulejos,
uma língua morta, extinta, fagulha,
tornou-se o moteto a quatro vozes evaporado
que me viu quase morto, perfeito, reinventado
contemplando a face da divindade de meu corpo
com asas falsas, aos seu pés estirado.