Meu Funeral
“A vida é senão um breve sopro!
Daquele que vive mas está morto”-R.K.
Não derramem por mim uma lágrima sequer,
Quando ao sepulcro recolher-se meu corpo,
Dai-me senão um canto tristonho qualquer,
Como homenagem a este poeta enfim morto.
Terei na morte!O destino de todo ser mortal,
No ardor dos círios. Este corpo é meu funeral!
Mas a epopéia do existir. É a gloriosa ilusão,
Da mortalha que encobre o corpo apodrecido,
Ao tumulo, junto das flores a minha solidão,
É sentir o cadáver!A terra ter enriquecido!
Apaga-se a luz!Na tormenta esse tênue fanal!...
Nas coroas de flores!Perfuma-se meu funeral!
Quão triste seria a luz que me leve à sepultura,
Brilhar como a estrela do alvorecer matutino,
Ter os lábios roxos e lânguidos em cada fissura,
No lúgubre repicar ao cortejo de um sino!
Triste miséria! A alma em uma jornada astral,
Ver o próprio cadáver ser o meu funeral...
Ao epitáfio escreva senão um verso de amor,
Que enrubesce a fronte do estertor cadavérico,
E beije-me a fronte que o teu corpóreo calor.
No pranto será o meu infinito surgir histérico!
E na santa casa de Deus, no réquiem o memorial,
Será a lembrança lívida do meu corpo no funeral!