O COLAR DE CONTAS(De "Vozes do Aquém"")

Melhor colocar

o colar de contas

para atravessar

hoje

a rua.

Afinal,

é tempo de vento

e alguns diabos

estão à solta,

querendo grudar

nas costas

como carrapatos.

Bem faz

quem não olha

por sobre o ombro

e evita cruzar

a própria sombra.

Para andar,

o bom tom recomenda

por primeiro

a ponta do pé

e depois a palma,

espalhando

com os dedos

sempre

a última pegada.

Se na esquina

ainda estiver

o pelo do gato,

vale a pena

recolhê-lo.

Tal qual novelo de lã,

ajuda o fauno

a encontrar

o seu caminho.

Depende muito

do que se quer

para agora.

Caso opte

por guardar o fiapo

entre os dentes,

vá pela sombra.

Em caso contrário,

mantenha o sol do lado esquerdo

e proteja

o pescoço

com a palma da mão.

Do feitiço

a melhor parte

é, sem dúvida,

o enredo.

Assim como

quem faz o caminho

é o andar da carruagem.

O trote suave

leva mais longe,

embora dê um pouco de sono,

e possa ser perigoso

do meio para o fim da tarde.

Para completar a indumentária,

que tal algum adereço

de mão?

Prefira chocalhos,

feitos de pedras e palha.

Nada de penas,

muito menos de pele.

Quem pede,

terá.

Quem chama,

verá.

Escolha bem

o que quer.