CANÇÃO DA CHUVA
Chuva benfazeja a escorrer pela vidraça,
Sacia a sede da terra, momento de magia
Alimenta o chão como o leite às crianças
É à força da natureza quando ela procria
Dança um tango na noite, pura fantasia
Emoldura quadros que a tudo encanta
Seu poder transformador logo contagia
São as lágrimas do céu que não se conta
Junto aos fantasmas que a sombra cria
Mistérios da alma que junto escorrem
Lava impurezas que o sol depois irradia
Quando não assola e a tudo descobrem
Pingos tamborilam no telhado, brincam e
Que calam e nos embalam sussurrando
Cantam com a voz do vento esta melodia
Dá um sono gostoso que vem bocejando
O colchão é suave repouso de meu corpo
Enquanto viajo no espaço, para além...
Fico calmo e em paz a tudo contemplo
Dissipa as dores de lembranças que vem
Fixo o olhar a uma réstia de luz do poste
Que desce qual jorro de uma ravina...
Então percebo o som nativo que persiste
Tão selvagem como o vôo da ave de rapina
Que brota da entranha da terra e cresce,
E se expande a beirar matas e colinas
Sentimentos transbordam e aparecem
Pelas frestas, tocas, bordas e encostas
Formam-se veias suaves que deságuam
Sem ferir-se a água fere a pedra dura
Num longo tempo, gota após gota,
O imenso rio se avoluma e murmura
Em cada vida e em cada criatura
O mistério que existe em cada ser
Parecem fragmentos a desvendar-se
Em cada seixo que rola para o mar...
Duo: Arlete Brasil Deretti Fernandes & Hildebrando Menezes