Folha morta
(escrita em 1978)
Eu sou folha que o vento leva pelo ar
Eu sou pensamento no espaço a flutuar
Sou um ponto de esperança que se fez plantar
Sou pluma que balança sempre a voar.
Eu sou passarinho livre sempre a voar
Como pluma balançando soprando no ar
Sou uma criança linda sempre a cantar
Sou a sombra da malícia sempre abalançar
Como o ferro que me fez
Como a morte que não vem
Sou a fronte nua, altêz
Como a morte que não vem
Sou a morte, sou do além,
Sou a tela que já foi...
Eu sou passarinho livre sempre a voar
Sou um lindo canarinho sempre a cantar
Sou criança que caminha sempre a brincar
Sou a morte que caminha sempre a esperar.
Eu sou folha que o vento leva pelo ar
Sou a árvore que o vento vive a balançar
Sou como a vida que caminha livre a procurar
E a morte que caminha sempre a torturar
Como a guerra que me inclui
Como a fera que sonhei
Como os homens que mataram também.
Sou a sombra do que fui
Sou a morte que sonhei
Sou a terra que levaram pro além...
Eu sou passarinho triste sem poder voar
Como um lindo canarinho sem poder cantar
Sou a árvore que o cento insiste a soprar
E a sombra da malícia sempre a esperar.
Eu sou folha que o vento leva pelo ar
Sou folha que vive sempre para flutuar
Como a folha aberta em vento,vôo sobre o mar
Eu sou folha morta que o tempo vai levar.