Sombras na noite
Voei pela noite como um vampiro
Hora transparente sem nenhum suspiro
Hora negligente penetrando mentes
Ou me disfarçando de estrela cadente
Numa aventura de incomum destino
Deixando o corpo sem gesto e sem tino
Flutuei sobre montanhas, florestas e mares
Segui aves noturnas nos baixios e ares
Mas ao mergulhar por entre as cidades
Ao me aventurar nas suas vaidades
Percebi as sombras daqueles viventes
Rondando minha sombra, insistentemente
Vi-me uma sombra assombrada com as outras
Todas torturadas, carentes e loucas
À primeira vista à sombra de karmas
De donos egoístas, vazios, fantasmas...
Que não se importavam em tê-las vagando
E as deixavam livres, pairando e pecando
Numa ação calma e de alguma coragem
Com boa vontade e de despreendimento
Fui vendo contornos de luz naquelas sombras
Que foi me inquietando naquele momento
Por não perceber as luzes na minha
Porque a minha sombra era única sozinha
Voltei-me aflito à meu corpo dono
Me acomodando e lhe tirando o sono
Para que pensasse sobre a experiência
Para que soubesse de nossa sentença
Sozinhos, cúmplices e separados
Um corpo dormindo e sonhando acordado