Poema para amanhecer.
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Os meus pés se confortam com os úmidos da floresta
- quando podar faz crescer.
Não meço com métricas minhas verdades meias,
nem mesmo de minhas mentiras tiro metades medidas.
Prefiro alcançar pelo abismo o amor, o único,
vestido de natureza indistinta, pasmado de aconchegos.
Atravesso pontes sobre os rios e não dou conta ou destino dos desvios,
meus pés se acalantam nas sombras, nas folhas desarrumadas da família,
fazem do desalinho poema, fazem da poesia caminho.
São duas flores brotadas na terra, aquecidas no barulho do tempo,
levando, distraídas, o fruto mesquinho ao chão.
Alados vão ao encontro do mundo, da morte, da força que nasce serpente.
Assim atravessam o pântano, a crise, o medo de um viver sozinho,
estão entre o beijo desencantado e o preciso encantamento das horas,
não ouso andar contra o passado, e me abasteço de cuidados outros.
Na frente da casa, porta aberta, figos na tigela alva, noite morna chega:
outro dia, outra chance, outra vida, outra fresta.
Patricia Porto