morte transcendental
Você morreu
aos poucos pelos ininterruptos silêncios
pelos lacônicos monossílabos
que ecoavam pelo recinto
Você morreu
paulatinamente
através das chuvas que escamoteiam as
lágrimas
através dos raios que fulminam as
raivas
através da porta que se fechou e
selou a ausência de notícias
Você morreu pois não sei como foi
seu dia, seu sentimento,
sua roupa, seus olhos
Pois não partilhamos idéias, palavras,
gestos e intenções...
E dessa lacuna
se extrai apenas solidão e saudade
No fim, a saudade termina...
E na escuridão da memória
resta a vaga idéia do que foi
uma criatura...
Talvez seus gostos fossem idealizados
Talvez sua personalidade fosse imaginada
Talvez sua existência tenha apenas
arquitetada
a priori no útero,
depois no berço
e, por fim, na vida...
Você tem sua própria vida
sua própria escolha ou escravidão.
Você morreu
transcendentalmente
E a mim,
só resta superar a perda, e
apenas morrer materialmente
sem mágoas,
sem lembranças,
sem reticências
apenas com a ruptura da vida
e convivência.
Comemoremos
Hoje nasceu um novo dia
da morte eterna.