morte transcendental

Você morreu

aos poucos pelos ininterruptos silêncios

pelos lacônicos monossílabos

que ecoavam pelo recinto

Você morreu

paulatinamente

através das chuvas que escamoteiam as

lágrimas

através dos raios que fulminam as

raivas

através da porta que se fechou e

selou a ausência de notícias

Você morreu pois não sei como foi

seu dia, seu sentimento,

sua roupa, seus olhos

Pois não partilhamos idéias, palavras,

gestos e intenções...

E dessa lacuna

se extrai apenas solidão e saudade

No fim, a saudade termina...

E na escuridão da memória

resta a vaga idéia do que foi

uma criatura...

Talvez seus gostos fossem idealizados

Talvez sua personalidade fosse imaginada

Talvez sua existência tenha apenas

arquitetada

a priori no útero,

depois no berço

e, por fim, na vida...

Você tem sua própria vida

sua própria escolha ou escravidão.

Você morreu

transcendentalmente

E a mim,

só resta superar a perda, e

apenas morrer materialmente

sem mágoas,

sem lembranças,

sem reticências

apenas com a ruptura da vida

e convivência.

Comemoremos

Hoje nasceu um novo dia

da morte eterna.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 10/01/2012
Código do texto: T3432540
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