VERSOS AOS VENTOS SÓBRIOS
Se um dia eu puder, apenas,
Transformar-me em sublimes vendavais
De versos sãos, versos de paz,
Poderei livrar-me de tão pequenas
Angústias que a vida traz,
E tudo o mais serão poemas,
Dilemas tão sensacionais
Que minha sombra desenhou
Bem no âmago da minha essência...
Se um dia eu atingir o ápice
De todo sonho que a vida sempre induz
Transfigurando cada vão impasse
Entre a cor da espera e a dor da cruz,
Poderei ser tão leve quanto o verso
Perdido no universo breve de uma luz
Chamada, essencialmente, amor...
Se, e tão-somente se eu pudesse
Transcender o vôo incauto destes versos ,
Certamente eu rezaria outra prece
Diluída em sonhos díspares e tão dispersos
Que nem mesmo o tempo apagaria,
Seja noite ou seja dia,
Esta chama de paz transcendental...
Sim, se eu jogasse meus versos ao vento
Como estrelas lídimas de amor fugaz,
Como réquiens incólumes de sentimento,
Talvez eu não desejasse nunca mais
Dissipar-me em mil flocos de inexistência,
Desfazendo o vácuo vão que perfaz
Os milhões de baixos da vida, essência,
Entre os poucos altos, auges de paz,
Imiscuídos em sobressaltos de demência...
Mas apenas tenho letras e nada sou,
Como vento veloz que vaga no universo
Desta alma, transmutada em verso,
E sedenta do sublime e mais disperso amor.