Sátiras

Sátiros selvagens

destroem velhas imagens

e entopem as ruas

e as artérias

de espessa serragem

e nebulosa friagem;

e do horror de

gritos pavorosos

que minam qualquer

coragem.

Faunos proclamam

o Império da Luxúria,

da orgia e da incúria.

Tudo vale em camas comuns

de amantes incomuns.

Reinam as feras do Umbral,

os zumbis do Portal

e a sanha do anormal.

Virgens violadas

gemem amedrontadas,

mas anseiam

por novas escapadas.

Derrubam-se Muros e Morais

nesses dias de libertos infernais

e de libertinos angelicais.

Menos é mais

em rúpias

de volúpias

pelas indianas prostitutas

que sonham com a negra Kali,

pois só o Diabo as escuta.

Enquanto tal, um maestro sem batuta

adere à religiosa labuta

na dança que se dança

nesse Mundo de Puta.

Reina Ares, amansador de Cérbero,

antepassado do infame Nero.

De tudo eu quero,

mas de ninguém espero,

como repete Ravel no Bolero*,

pois a vida é escrita

a fogo e ferro.

Balas perdidas

são mortes indevidas.

Ceifadas estão as Margaridas,

as malditas flores possuídas

por falos e mentes

dementes.

No vidro da mesa,

só uma "carreira de acidentes".

São dos "Dias do Senhor"!

De choro e ranger dos dentes.

*da obra de Maurice Ravel "Bolero".