À margem do corpo

Aos que por aqui vagam

Deixo o recado do sonambulismo

Que nas noites de fronte ao abismo

Os meus sentidos se apagam.

Dispersa-se a mente

Num clarão de alva luminosidade

E sinto meu corpo a vagar pela cidade

com ares de inocente.

Meus passos se perdem

Na descompassada hora demorada

E ao largo vejo tudo, vejo o nada

Que sobrou do meu édem...

Não tenho deuses ricos

Nem amuletos que, ao mal que me espreita

Espante. Minha força e a mesma que respeita

O cântico dos aflitos.

Meus pesadelos culminam

Num vale tenebroso onde o mar me enxarca

E do despertar, na noite, só me há uma marca:

As dos olhos que me examinam.

Não temo não voltar,

Pois se partir sinto que já vou tarde

Mas me engano e meu peito, de súbito, arde

Por aqui deixar,

Neste mundo perdido,

Onde minha frágil presença se desfaz...

Mesmo contra minha vontade eu parto... Em paz!

Meu pobre corpo esquecido.

Luis Carlos Wolfgang
Enviado por Luis Carlos Wolfgang em 07/01/2007
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