À margem do corpo
Aos que por aqui vagam
Deixo o recado do sonambulismo
Que nas noites de fronte ao abismo
Os meus sentidos se apagam.
Dispersa-se a mente
Num clarão de alva luminosidade
E sinto meu corpo a vagar pela cidade
com ares de inocente.
Meus passos se perdem
Na descompassada hora demorada
E ao largo vejo tudo, vejo o nada
Que sobrou do meu édem...
Não tenho deuses ricos
Nem amuletos que, ao mal que me espreita
Espante. Minha força e a mesma que respeita
O cântico dos aflitos.
Meus pesadelos culminam
Num vale tenebroso onde o mar me enxarca
E do despertar, na noite, só me há uma marca:
As dos olhos que me examinam.
Não temo não voltar,
Pois se partir sinto que já vou tarde
Mas me engano e meu peito, de súbito, arde
Por aqui deixar,
Neste mundo perdido,
Onde minha frágil presença se desfaz...
Mesmo contra minha vontade eu parto... Em paz!
Meu pobre corpo esquecido.