INTEMPÉRIES
Lágrimas dizem muito mais que palavras
Quando a mente se cansa e o coração se retrai
Em meio às intempéries e às sinas macabras
Do pesadelo que vem e do sonho que vai
Lágrimas soletram sentimentos soturnos
Como chuvas de amor que soluçam sem sono
Inundando com gotas os medos noturnos
Enquanto o mundo gira, rebelde, sem dono
Lágrimas sonegam segredos sagazes
Como tempestades de água sem fé e sem fim
Ameaçando com dor as pessoas vorazes
No meio termo tão vago entre o não e o sim
Lágrimas são amantes dos mais belos sorrisos
Como dois namorados virtuais e distantes
Que não trocam seus beijos em campos Elíseos
Perdidos no outrora, no mais, no bastante
O que são intempéries de ventos na alma ?
O que são intempéries de letras, no fundo ?
Quem tiver a resposta que consola e acalma
Por favor, mande rosas aos espinhos do mundo.
Lágrimas sorriem silenciosamente da rima
Que eu tento compor com as letras do pranto
Como se fosse possível desfazer sua sina
Como se fosse viável quebrar seu encanto
Lágrimas gargalham como gotas de som
Regendo a música que a orquestra da vida,
Em seu repertório tão mau quanto bom,
Revela as notas de uma emoção já perdida
Lágrimas secam a sensatez nada humana
Que almeja abastecer o vácuo de tudo
Em todo o poema que a vida declama
Em cada tom de amor tão cego e tão mudo
Lágrimas sambam com sentimentos furtivos
Dançando a despeito dos dias de dor e de fé
Como se exigissem respeito dos mortos e vivos
Ao desafiarem o que o próprio destino requer
O que são intempéries de letras na alma ?
O que são intempéries de ventos, no fundo ?
Quem tiver a resposta que consola e acalma
Por favor, mande rosas aos espinhos do mundo.