OXIGÊNIO ONTOLÓGICO
Assim como a lua não vive sem noite
Assim como o sol não reina sem dia
Não sei existir sem a letra que açoite
Não sei viver sem respirar poesia
Assim como o céu apenas brilha no alto
Assim como o mar apenas urge no fundo
Não sei andar seguindo apenas asfalto
Não sei parar vivendo apenas no mundo
E como rosa sem dor nem espinhos
Não sei sorrir sem um poema na alma
Mas sei chorar sem direção nos caminhos
Que a vida escreve, afoita, sem calma
E como cravo sem cor nem lembranças
Não consigo ingerir a realidade insossa
Sem poemas que são como ágeis crianças
Brincando, vivendo e fugindo da fossa
Pois o poeta transforma a noite em dia
Edifica a letra sempre em lances plenos de paz
Faz o vento cantar e sussurrar poesia
Enaltecendo o caminho que a palavra perfaz
E assim como os sonhos se erguem aos montes
Assim como as luzes clareiam a vida
Cada poema traça mais de mil horizontes
Com toda graça que o destino elucida
Assim como a vida não se mantém sem amor
Assim como a morte não se mantém sem lembranças
Não sei viver por fora dos versos de ardor
Ainda que o tempo se perca em letras e lanças
Pois o poeta é refém da rebeldia dos sonhos
Como se os sentidos das letras fossem mil labirintos
De emoções, de fraquezas, de sentimentos medonhos
Que alimentam os tempos e os poemas famintos
E assim como o céu não sobrevive sem lua
Eu não conseguiria sorrir nem mesmo um dia
Sem flutuar nas letras que transcendem a rua,
Porque eu não sei mais viver sem respirar poesia...