Mesa posta.
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Muitas vezes é preciso sair do enclave
e diante da queda inevitável das águas
dizer mais uma vez a que vieram os seus olhos ao mundo.
Vim e vi!
Eu vi o mundo através de portas fechadas
e nenhuma janela se abriu.
Também não comi a hóstia que um deus fomentou
ou amassou.
Não sei se venci. Inventei. Preferi.
Vencer o que é¿
Talvez eu seja um perdedor resoluto,
um vira-lata astuto de sorte desorganizada,
um ser que adoece e enlouquece.
Que surta pelas beiradas, que se esquiva da morte,
que fraqueja de duas em duas horas,
que pragueja contra os corruptos,
contra os que têm quarto de hóspede
na casa dos medíocres.
Mas não me esquivei do soco,
caio, levanto e tomo pílulas para esquecer os desaforos da vida.
Trapaceio com a demora, procrastino a segurança do amor sóbrio.
Não coloco vírgulas entre os sujeitos,
me jogo alienado na lama com os ímpios,
como farelos com os porcos
e inicio frases com pronomes indisciplinados.
Abomino os adoradores da burocracia
e os aduladores dos modernos senhores feudais.
Por isso troco os nomes das pragas,
faço rascunhos que mal podem ser chamados de poesia,
não ganhei nenhum concurso,
ainda não me ofereceram vagas no céu,
não saí na capa da vez,
não fiz política nem arranjos
nem sequer troquei minha paz por moedas.
Vim e vi!
Vencer é o quê¿
Voltarei sem nenhum traço do indefectível
para dentro de minhas memórias sensíveis,
razoáveis, sujas de minha forma incorreta de viver.
Memórias ordinárias que andam a deriva
fazendo gozo,
utopias
e versos lúdicos,
rasteiros na terra úmida da mente.
Feito uma folha vou volitar na poeira.
Feito poeira vou ver o mais belo trunfo da existência:
pensar tudo de novo.
Patricia Porto