TECELÃ
Teço a sombra da manhã,
Nesta linha vã em que me aqueço
E, assim, costuro o verbo amar
No ar, desde o começo,
Como se a aurora caísse lá
Entre o mar e meu tropeço...
E, depois, teço a sombra da noite
Neste túnel imenso de alma incandescente em lã,
Teço o resquício de ontem no vértice do amanhã
E, assim, a lua me chama em cada verbo que açoite...
Teço, apenas, em cada átimo de momento,
Costurando dilemas como teia vã
Sou brisa tênue do mais tenro vento
Sou nada em réquiens de uma tecelã...
E,assim, a vida sempre me costura
Nesta linha tênue entre tudo e nada
E se eu perder o verbo denso de candura,
Tecerei minha sombra no amor que brada.