Os cegos no tiroteio
Enquanto serviçais consertam a ponte,
Vou polido a espada do lado de cá;
Enganando a sede até chegar à fonte,
E podendo antever o mau tempo que virá.
Lucidez e memória, o perto e o distante,
Tudo ao alcance, mágico binóculo;
Ginete ditoso montando um elefante,
Descuidado peão, perdendo os óculos.
Não tem escolha o banco da praça,
Senta o jovem, o velho, a feia e a bela;
Levar pedradas só por ser vidraça,
Em nada, pois, desmerece à janela.
Efeméride da alma, não se prevê,
Nem mesmo o tempo, climas e ares;
Presto atenção aos jornais da TV,
E eles só colhem, em outros pomares.
Surpreendem então, ventos internos,
Levantando saias que nem desejo;
Combatendo firme, os próprios infernos,
Os alheios tormentos, eu também vejo.
Maratona assim, somente pelo ouro,
Por outra medalha, renego o pódio;
Na peleja espiritual não há trigo louro,
Verde ou maduro, amor ou ódio...