Hécate
Ao desaparecer do rutilante carro dourado de Apolo
No horizonte onde as cores pouco a pouco esmaecem
Misteriosa divindade de cinzelado e negro colo
Emerge envolta no véu das sombras que recrudescem.
Tríplice ente cujo poder cresce ao eclipsar do dia
Virgem, mãe e anciã, guardiã das encruzilhadas
Gêmeas tochas carrega, do obscuro Hades é a guia
Terror dos viajantes que à noite percorrem as estradas.
És temida pois detens os segredos da morte e da vida
As chaves da doença e da cura, as artes do ódio e do amor
Ao piar dos mochos, ao uivar dos cães és pressentida
Com seu cortejo fantasmático arrastando quem invigilante for.
Quando pelo bosque de álamos brancos Hécate vier a passar
Limiar entre dois mundos, borda entre o oculto e o visível
Assim como Hermes, ela conduzirá as almas em triste vagar
As quais, temerosas, não ousam fitar a deusa irascível!