Velhice

Estou diante do espelho da casa grande,

os corredores atiram-me minha imagem,

sou sozinha no mundo, só eu no reflexo,

quantas rugas, anos indúbitos e largos

Espio os horizontes daquele desenho,

daquela anunciação que vai se apagar:

são minhas passagens: horas e horas,

Lamento? Quase nenhum: um quedar.

A água calma que se instala nas marcas,

ainda me diz, mesmo que em rebento:

da perda santa do beijo da vida inteira.

São vagões de um trem em disparada.

Trilhas de muitas cidades, belas idades.

Como agora: feliz aqui, isso é verdade.

Neusa Azevedo
Enviado por Neusa Azevedo em 18/09/2011
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