Fluxos de Consciências Poéticos
Amordaçais os hinos, os pés e as cores destas flâmulas que os governos vos uniformizam;
Queimem estes faróis bípedes divinizados com suas verdades megalomanizadas nos riachos,
Nos Jordão, no Ganges, no Eufrates, no Nilo, nos mares das mentiras esquizofrênicas;
Apedrejem até que o alento da vida sucumba aos pés do Nada
Todos os parasitas e bactérias que pleiteiam o poder banalizado e suas causas econômicas
Em todos os senados e nações, paraísos e infernos,
Que visam o controle e a manipulação por meio de distintos castigos ou através de recompensas;
Estrangulem vossos discípulos enquanto os mesmos velam seus próprios sonos
Por jamais ousarem seguir a si mesmos e os cursos dos rios que habitam em si;
Vomitem nas lixeiras das esquinas todas as denominadas culturas que foram semeadas
Em teu coração, a fim de te manipularem sem que pouco percebesses algo;
Vista meu irmão de sangue, filho abastado do ceticismo,
A camisa-de-força da sabedoria, e pule, e grite, e dance nos cemitérios renascentistas
De tuas próprias ideias e emoções que ainda não ganharam corpo, alma e espírito;
Jubilem em rugidos paranóicos de êxtase onde os pés do Caos
Dilaceram o pâncreas e o córtex cerebral de cada beco, de cada casa, dos gatos em cima das árvores,
Em cada tribunal, em cada escola, em cada parlamento, nas faunas e floras,
Em cada aliteração e idiomas destes filisteus morféticos defecados pelos opióides oraculados
Pela Civilização Pós-Contemporânea dolarizada, europeizada,
Ecumenizadas pelos Bispos polifônicos e bipolares do poder demagógico.
Estripem as vísceras de teus pensamentos mais profundos e animalescos,
E substancializem através delas a nova religião do novo deus que este mundo clama, suplica, geme, porém todos persistem fingir não ouvir.
Caminho no vácuo poli-orgânico de minha alma,
Com as mãos dadas com a Luz e a Escuridão que louvam minhas subversões e ultraversões
Defloradas de todas as capelas autistas que refratem as bioformas de meu ser.
Infectem as doenças cuspidas pelos Messias da Humanidade
Os quais contaminaram as tragédias, as alegrias, as disparidades, os opostos, as transições
De tudo o que formou, vitalizou, mutabilizou,
E fortaleceu a existência e sua fome transformativamente ávida,
Mas que foi debilitada pelos salvadores que se perderam nos lastros vertiginosos de suas doutrinas redentoramente atrofiantes;
Imola partes de teu corpo com o cutelo da dúvida forjado das cinzas da convicção;
Assassine (a sangue frio) o teu Pai Zeus, e copule com Gaia um novo mundo, novos seres,
Novas cores, novas formas de sentir e pensar, novos átomos, novos números e equações
Até hoje impensadas, e que provavelmente jamais serão tocadas neste mundo.
Suicida-te num só gole com a taça onde o todo de ti, da vida, e do infinito
Ainda são escassos e insuficientes para tua complexidade sempiterna.
Enforquem-se os poetas, os profetas, os visionários, os inventores, os amantes do conhecimento,
Os alienados de toda química neurótica, ambiental, intelectual, pois vós sois filhos da escravidão,
E sereis vendidos como matérias fecais
Que sempre vós fostes pelos navios das grandes corporações.
Barbeia, depila e apara estes nódulos linfáticos de estultícia auto-injetados
Por tua inércia cinemática depois de saciar-se temporariamente
Nos mamilos e na genitália do Entorpecimento, onde te sexualizas, te cansas,
E te dormes sem nunca teres acordado.
Fuzilemos com três tiros no miocárdio de cada Lei que não brotar de nosso próprio abismo,
E cultivemos nos cumes das pirâmides os legítimos Legisladores
Do verdadeiro niilismo criador, inovador e destruidor que deseja se desenjaular de nós,
E de tudo o que a consciência humana nos contaminou.
Não se argumente mais sobre bem-estar, e as estatísticas dos progressos.
Façamos as pazes e um novo pacto com o mal-estar o qual cria novos jardins e constelações
Em nosso coração tão árido e vazio quanto o chão onde pulsa a comunhão
Abstrata e atômica e submolecular entre todas as coisas.
Os tentáculos do Tempo seguem apagando teu nome, tuas datas, tuas pisadas,
Tuas vivências, e diluem-nas nas miscigenações heterogêneas dos equívocos, dos erros,
Das ambigüidades, no catálogo infinito do Esquecimento.
{Quem dera João Pedro se o universo fosse tão áureo, tão belo,
Tão pleno de vida como é teu sorriso, teus olhos, e até os brinquedos que brilham quando
São tocados por tuas mãozinhas esculpidas pelo Inefável.
Ah! Como eu amaria com toda a minha força, amor e pensamento a existência,
Pois tu me és a Forma e o Conteúdo belo e complexo de cada parte do universo.
Brinca meu sobrinho,
Brinca e joga com cada galáxia e planeta e estrelas como se fossem bolinhas de gude,
Assim como a Vida faz com cada um de nós.
Brinca comigo minha linda criança, joga-se em meus braços,
E continua me abraçando como se fôssemos
Uma única partícula expansiva e eterna e inseparável.}
Enxuga teu corpo titânico e disforme
Nas máculas silenciosas que teu reflexo esconde dentro de ti mesmo.
Gilliard Alves Rodrigues