O Peregrino
Emana das raízes do sentir grotesco
Fantasiado ao enredo negro carnavalesco
Teu mais impar pensar ante o próprio cortejo
Dividido e calado entre o ser e o estar
Na irrequieta rotina prática dos longos dias
Abortando fétido tal fruto prematuro
Dos gritos desejosos a que ouvias
No silêncio mórbido do escuro
Sangrando as carótidas rompidas
Alimenta-se a morte das tais vidas
Que habitam reles a esfera dos mortais
Prendendo-se tolas, na busca de algo mais
Doravante a tal mistério desejar
Que aos quasares os caibam desvendar
Na bruta atrofia dos cansados cerebelos
E nas masmorras esquálidas dos sombrios castelos
Peregrino molambento rumo ao infinito
Entre realidades horrendas e maravilhosos mitos
A palavra ouvida soa diferente de quando dita
E faz-se por si só, contradito paradigma
Transpõe os tempos tal desejo
De ouvir apenas o que se escuta
E transformar em real o tal anseio
De compreender a matéria-bruta
Ecoam na imensidão dos astros
O clamor cansado e sem perspectivas
Do Homem que deixa seus rastros
Na infinidade contínua dos dias!