CONFISSÕES

Tenho horror

ao sigilo,

ao mistério,

ao oculto

mas,muito mais,

ao falso,

ao ilusóio,

ao enganoso.

Exatamente por isso é que perdi o fascínio pelo dia

e passei a admirar mais a noite

quando verifiquei que, ao contrário do que parece,

ela, sim,é que é verdadeiramente clara

e não é, também, de guardar segredos.

Aliás, é na noite que se percebe

até mesmo o infinito.

Já não creio no sol,

cuja luz que nos deveria revelar as verdades,

nos ofusca e nos ilude

fazendo-nos até mesmo acreditar que o céu nos é próximo

e que este é azul, ou cor-de-rosa, ou ainda dourado.

Prefiro, então, a claridade sincera

das distantes e pequeninas estrelas

que nos fazem enxergar muito mais além

e constatar que o universo, embora sem cor e sem fim,

é repleto de sinais luminosos

nos dando, portanto, a incontestárvel certeza

de uma eternidade.

Exatamente por isso, também,

é que me afastei dos templos

onde só me apresentavam um deus oculto e distante

ao passo que eu sinto a real presença divina

aqui mesmo, em tudo,

em cada semente, em cada flor, em cada fruto,

tudo a provar que nada veio do nada,

pois se a vida teve uma origem,

conseqüentemente teve um originador

cujo essência está distribuida em todas as coisas.

Sim, tenho horror

ao sigilo,

ao mistério,

ao oculto

mas, muito mais,

ao falso,

ao ilusório,

ao enganoso...

a tudo aquilo

que só nos leva

à dúvida e à morte.