Travessia
Ficou pasmo quando percebeu que sua tortuosa vida havia mudado.
Agora, era a vez da maturidade. As atitudes irresponsáveis ficaram no passado.
Realizou que não era um deus e sentia até respeito pelos seus.
O dinheiro já não mais ocupava o primeiro lugar em suas prioridades e a humildade tomava o espaço do orgulho - só podia ser coisa da idade - pensava.
Sentia-se livre de antigos fardos: preconceito, prepotência, impertinência, sarcasmo.
Entendia-se agora, apenas mais um na multidão, destacando-se apenas, pelo esmero na boa ação.
Mas quando foi que tão contundente mudança ocorreu?
Deste tempo de travessia, muito pouco se lembrava. O que aconteceu?
A vida já não era a mesma, mas era mesmo vida e ele, nem de longe era o mesmo de ontem. Ontem?
A ponte. Sim, a ponte, o carro, a travessia...
O susto, o desespero, a dor, o sono...
O despertar, mais desespero e alma aleijada...
A escuridão, a ponte, a travessia e enfim, o alívio...
Da travessia ele se recordou: há longos anos havia partido!
O choro com lágrima sentida; o arrependimento genuíno; a consciência!
A consciência, a ponte , a travessia e o olhar no porvir: já era hora; não "hora de partir", pelo contrário, era hora de voltar aqui!
(Andréia Jacomelli)
" Morrer não é extinguir a luz; morrer é apagar o lampião porque a aurora chegou!" (TAGORE)