A VIDA
A lucidez é um fardo,
Assim como os lúcidos
O são para os ébrios,
Pobres bêbados
Mais infelizes ainda os sóbrios
Pois sabem do mal que os atinge,
A consciência é um fardo,
Mas ainda para quem sabe,
Afinal estes carregam os bêbados
E os sóbrios
Em sua consciência
Tão presente o fardo
A martelar o que já sabemos
A repetir enfadonho
Tudo cansaço e a tenção
De um fado
Tão bem tocado
Que se torna feio.
...
Eu vivo na expectativa torpe de que minha vida seja como um cigarro
Podendo se acabar no próximo segundo, eu quero viver e também quero fumar
Triste é a vida de um viciado, menos alegre saber disso
Vejo a pequena, em passos inseguros mas tão apegados ao solo...
Seu pai segurava sua mão, agora dá-lhe liberdade
Mas sem tirar-lhe os olhos. Ah pai desajeitado
Mesmo em seu cuidado com os tropeços dessa vida
Que não é sua e por mais que seja sua experiência, não pode por ela ser vivida...
Não tenha tanto cuidado pai... Sei, não quer ver sua pequena e frágil sofrer,
Mas não pode por ela dar a vida, nem padecer e sofrer antes que aconteça;
O tropeço, a desilusão, não que a gravidade o seja.
Falo do mundo, da vida da dor de ser estar, mesmo contida
Mesmo e sempre no amor ao que dói...
À vida...