EU, UM HOMEM D'UM DEUS SEM DEUS
encarno
um homem de deus
sem deus
ele, o sólito desconhecido
eu, a revelação estúpida
desse atólito arcano embrutecido
tão divinal quanto desumano
sigo consagrado
e insano
(o arquetípico
alegórico engano
encerrado no tempo)
cuspo e me encosto
nessa imutável inconstância
que me transforma
(essência sem forma que, porém,
contorna de carne e sangue
as feições do meu rosto)
minha mansuetude vocifera,
minha benevolência tortura
minha indulgência pragueja
arrojo contradição infinita
(ah, esquisita lição esquecida no abismo
de tantos corações humanos...)
eu,
servo e fonte dos paradoxos
desse mundo insaciável e aterrador
eu,
a alimentar de dor e ósculos
o meu particular terror
eu,
o inflexível
feitor de escravos
eu,
o carcereiro
dos porões do paraíso
eu,
o (ignoto) redentor
desavisado