O passarinho e o outono
Cansei de ser primavera, de carregar flores nos braços
De tornar próximas todas as tuas longitudes,
Sim, eu cansei!
Cansei de inventar novas cores e perfumes
E sorrir para ti até quando a dor mais doía.
O tempo me fez confissões, achou melhor que eu me vestisse
De vermelho e exigisse ser outonal
As horas me acariciariam infimamente…
O tempo então Voyer , sem nenhuma ilusão
Veria tuas mãos em meus seios
Meu corpo teu ninho pequeno passarinho de penas vermelhas.
Trago-te ramos, e grãos, não te importes com o mormaço
A suçuarana não te encontrará aqui
Deixarei folhas secas no tapete do chão
Como fetiche, mágica… Como chuva de frutos amadurecidos
Até que chegue o momento de nascerem rosas
E a vermelha aurora dissipe-se lentamente
E chegue a hora de tu ir embora
Hei de sofrer, como sofrem todas as estações
Sentirei-me deserta, sem pasto como sofrem milhões
Ver-te encaminhar-se a direção oposta
Seguindo como um rio, num curso onde não vou vou estar.