NADA PARA REPARTIR
Nada. Nada é muito pouco.
Nada também pode ser muito.
Nada. O ápice do que já foi Tudo.
Nada. Imperceptível. Indescritível. Inodoro. Incolor.
Nada. Sê-lo pode ser bom.
Passar despercebido no pequeno universo.
Pousar amores e dores. Sem barulho.
Nada faz sempre silêncio.
Barulho… apenas para dentro do Nada.
Ninguém ouve. Ninguém sabe do Nada.
Nada existe mesmo para ninguém sabê-lo.
Apenas a sê-lo. Com zêlo. Sem apêlo. Nenhum.
Aceita-se e gosta-se de sê-lo.
Há um despretencioso prazer no Nada.
Nada é vácuo na existência.
Nada é crescimento e silêncio.
Olhando para dentro. Nada diz aos outros.
Olhando para fora. Nada à mim diz qualquer coisa.
Prefiro o meu Nada de dentro.
Tudo. Muito Tudo.
Nada. Continuo a existir.
Tudo. Do lado de fora. Barulho e loucura. Não.
Meu Tudo. Apenas para dentro. De mim.
Gosto disto. Do silêncio do meu Nada.
Silêncio apenas para o Tudo de fora.
Ah… ninguém escuta o Nada. O meu.
Risadinhas de criança e barulhinhos de natureza. Só meus.
Abstraio-me. Não chama-me. Deixa-me aqui.
Sou Nada. E estou.
Karla Mello