Anfiteatro Vida:
Vá correndo e diga ao tempo
Que o vento, de certo é lento,
É o óleo da pista manchada,
Tua íris e pupilas dilatadas.
Na mais mortal das poças tingidas e atingidas.
Vem correndo e abre um casulo de mel
Onde não há limiar entre o doce e a ferida,
N’um descuido oxigenado e cheio de vigor,
N’um salto à mente deturpada e bêbada
Perdida em um carbono vulgar.
Sobe tecendo e desce, que a queda é sortida,
Desce subindo numa miragem atroz deixada,
Sobe descendo no espetáculo sombrio das gargalhadas,
E que o relógio, este bailarino manco,
Não dance as horas neste passo oco.
Em dúvida do que ser, escolhi-me ser feliz,
Mesmo que borrar a maquiagem, o palco persiste,
A máscara solitária faz-se inúmera, brota dilema.
Senhor! Destas máscaras que a chuva faz, o cenário apaga,
Deste espinho florido que me cala, padeço!
O palco devolve d’onde a flor-de-lis persevera.
De papéis passados escolhe o seu futuro a atriz
Desprezando papéis presentes que nas mãos deveras tem,
Situando um lábio a outro à altura do nariz.
Outra vez o teatro apaga o rastro do veneno em cicatriz.
E d’outrora surge dos respingos uma borboleta gris,
O mel vermelho lhe atrai o pólen da tragédia
E das asas de concreto que voa dissemina desgraça pura.
A seda de sua presença faz parada a todo céu,
E como o lar da bênção, a fechada cortina inflama.
Heresia falar entre uma dose e um copo,
Um corpo fechado: o teatro de cortinas cerradas,
Batente espera à náusea que nos cospe ao banco,
Sentinela precoce traz das chamas entre o inocente,
Mórbido, passivo e silencioso regresso, bastai!
Bastai, bastai, oh besta dos bastardos séculos!
Vá, segue o vento e suas pétalas pecáveis.
Corre, corre ao sopro, vá! Ordeno-te.
E diga ao tufão, à bruma, a este vento fugaz
Que o tempo ainda é o tempo, que o tempo de vezes é lento.
“Apaga-se a luz da sombra, fecha-se o anfiteatro”.