ODISSÉIA DO DESEJO
Teceu de desejos
Um tenso fio de pavio
- Faiscando -
O fio
Não gastou ou explodiu
Juntou-se em flama
À correnteza fresca do fastio
E por lá, quase que inteiro, se apagou
Como boiou, correu - como correu, caiu
Despencou
Das brutas alturas d’uma cachoeira
No ar atribulado,
Desprendeu-se da água de poeira
E planou ácido
Ao forte hálito dos ventos
Porque de sopro se elevou
Sobrepujou o cume das montanhas...
Quis menos e mais:
Pelos frisos das rochas,
Ganhou
Suas entranhas
Congelou
Ante o furor do inverno
Arrimou liberdade
No degelo da primavera
Fatigado do gélido corpo, apeou
Da aspereza das pedras
Dissolvendo-se em água cristalina
De arroio, precipitou-se mar...
Foi até parar
Num estômago gigantesco
D'uma baleia
Arpoada por pescador
- Foi assim que conheceu o horror
que é a dor da morte -
Sorte que
De caçado e içado ao barco
Ainda assim não se concedeu:
Conveniente,
No sol da vida, da proa, se evaporou...
E quanto depois passeou
Tal espevitado pássaro
No estrato azul
Das tantas nuvens
E tanto esbateu-se e relampeou
Que carregou-se de cinza
E choveu...
De fluir nas pedras das ladeiras
Das ruas
- Circulou entre pés e pneus -
Quando ao solo pisado
Algo o apertou e acendeu
Igual tivesse despertado
D' um pesadelo repleto
De surreais desejos seus
Satisfeito de tantos sonhos
Sem nada mais na ilusão
A entretê-lo
Reencontrou-se. E soube-se
Como realmente sempre foi
E será:
Era ele e além dele
O seu deus nele
Isso era tudo. E nada mais