Dois Sonetos Abstratos

A noite arrasta o seu dossel azul

sobre o destino cruel e irrevogável

do homem, que dorme em seu leito cru,

disperso no infinito formidável.

É cisco, é átomo, é espírito nu,

um fragmento da Obra inumerável,

e o Universo rodopia no

seu vórtice supremo e imponderável.

O homem de si e de tudo se esquece,

enquanto vibra o Universo em expansão.

Seu corpo dorme e ele se entorpece,

mas a sua alma sente a vibração

e capta, num raio que estremece,

a verdade da própria criação.

Sigo o meu rumo, calado e sozinho,

mas em meu ser há sempre outro que abrigo.

Sou ave migratória além do ninho,

é a mim mesmo que, incansável, persigo.

Cada um busca o seu próprio caminho,

toda alma é um miserável mendigo

que oscila no olho do remoinho,

em busca de luz e de um ombro amigo.

Ao longe ecoa a pergunta inflamada,

que circula no ar e além desmaia,

sem que a resposta seja revelada.

E o ser renova a dúvida na praia

cujas ondas lambem a antiga pegada

do homem no vazio, até que caia.

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 24/06/2011
Código do texto: T3054175
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