BRUMAS E SONHOS
Envolta em névoa espessa,
esconde-se uma montanha,
de verde pálido, do frio
na agonia final do outono.
Coberta de bruma, qual manta
cruel e contraditoriamente,
como barreira cinzenta
para impedir o gélido ar,
que ao cerne quer adentrar.
Queria ter asas de penas,
coladas com cera de abelhas,
como Dédalo deu a Ícaro.
Queria planar sobre a névoa,
soprar-lhe um hálito quente,
dispersar-lhe, artimanhas
para que raios de sol beijem
intensa e calorosamente,
superfície e entranhas.
Minhas asas coladas com cera
derreteriam ao calor do sol
e eu quedaria contente
na alfombra verdejante,
sem imitar passarinho,
com minh’alma de gente,
que faz poesia dos sonhos
e nela feliz me aninho.