Ciclos do inferno
 
Voltarei ao sorriso franco
Ao riso à toa
A alegria sem grandes motivos
E levo isto como uma certeza
Regressarei entre lírios e risos
Naquele dia que virá e virá
E a carne estará púrpura
E a alma estará lacerada
E a paz só existirá no inferno
E no ranger dos ossos a alegria
Jorra e se esvaí de mim este sangue coagulado
E que de mim se aparte qualquer docilidade
Que não quero nenhuma salvação
Mas é na condenação desta boca escancarada em choro
Na claridade do último olhar que me regozijo
Toda minha alma canta e baila
Nas fervuras desta gentileza rondando-me
Todos meus poros se assanham e se dilatam
Diante da beleza cruel de cada flauta amargada
Pelo orvalho que da árvore em festa se agitou escoando
Cada átomo manuseado gera a beleza da explosão
Atos atômicos serão a soda da qual beberei
E degustarei a calcificação
Saborearei cada uma das malditas palavras
Que se tornaram amorosas
Ao serem envolvidas naquele orgulho infantil
Como a bala de goma que engomou
Cada uma das línguas de fogo que submergiram do núcleo
No instante do regresso a certeza
Como medalha espetada ao peito:
-A morte venceu!
-Viva!!!

28.05.11