As Metafísicas do Haver
Há demônios que querem se libertar das grades de tua alma;
Há antíteses chocando paradoxos no vácuo de teu coração;
Há um Destino que nada vê, nada faz, nada escuta e nada é;
Há teus amigos que estarão ocupados com alguma coisa quando mais precisares;
Há nossos pais que irão morrer antes mesmos de serem enterrados por nós;
Há incomensuráveis sonhos que sempre estarão no eclipse de teu íntimo ser;
Há caminhos que nos levam para dogmatismos ilusórios;
(Todos os caminhos só nos levam a uma outra estrada);
Há narcóticos químicos, sociais e psíquicos que apenas adiam nosso suicídio;
Há sempre o amor que nos dilacera paulatinamente com a sua inexistência;
Há mendigos esfarrapados caídos ao chão que são a exteriorização
Corpórea de nossas almas imundas e abastardadas;
Há a torre do Esquecimento que devemos relembrar por tudo o que não seremos e teremos;
Há o Abismo que afaga nosso olhar e beija nossa fronte nos momentos de maior fardo;
Há sempre algo que não se consegue pensar, sentir, expressar e ver para si próprio;
Há a Tristeza cujo fogo nunca se apaga em nosso âmago;
Há a Raiva, a Inveja, o Auto-Desprezo e as Ironias que florescem em nossas línguas;
Há sempre a ausência interna e externa que abafamos com distintos e inúmeros placebos;
Há estados para se dominar a fim de ocultarmos nossas fraquezas;
Há auroras onde teus filhos já não estarão ao teu lado;
Há um caixão e falsas lágrimas a tua espera logo ali na frente,
(Junto com um paraíso que te odeia de braços abertos);
Há este mundo, estes governos, estas pessoas, que fingem se importar contigo;
Há o Láudano que suplica em dar as mãos com a tua dor existencial;
Há a verdade que te beija nos lábios com tanta ternura antes de te vender para a Morte;
Há um assassino na esquina escondendo um punhal, e segurando uma bíblia;
Há barbarismos copulando com pedras no meio do caminho;
Há o Livre-Arbítrio e a Predestinação para serem escolhidos ou enterrados;
Há idéias filosóficas, religiosas, idéias sobre qualquer coisa para te fazer um novo escravo;
Há milhões de idiotas seguindo seus gurus na música, no cinema, no que chamam de arte, etc;
Há alguém que te observa com o velho amor egoísta do outro lado da rua;
Há teu Pessimismo sexualizado por poesias, músicas, alcoóis, e a Realidade a te zombar;
Há tuas palavras e teu verbalismo para te prostituíres de inúmeras formas ainda informes;
Há outros ridículos personagens que vais incorporar antes da tua cortina ser fechada;
Há uma linda melodia entoada pelo Vento depois de teu sono cotidiano;
Há um Vinho metafísico que desejava tocar em teus lábios, e acariciar teu fígado;
Há raríssimas pessoas que nunca deveriam ser desvanecidas fisicamente;
(Meu lindo irmão caçula é uma delas);
Há Segredos que bradam por baixo das pedras de tua alma para serem confessos;
Há Mistérios que geram lucros e profissões em permanecerem ocultos;
Há mais um cadafalso transfigurado de uma ponte redentora;
Há o filho que tanto amei, mas foi abortado por motivos tão fúteis sem que eu soubesse na época;
Há doentes que afirmamos nos importar e compreender suas dores somáticas e psicológicas;
Há bactérias, vírus, e há a morte nesse pênis e nessa vagina que chupas e lambes;
Há o gozo do Perigo e das sensações autodestrutivas;
Há a sublime conclusão atrás daquela porta que nunca chegarás a tocar a maçaneta;
Há um tribunal em tua mente onde todos os teus pecados e ridicularidades te acusam;
Há o Dinheiro, o Poder, e os Prazeres queimando tuas fotografias em teu reflexo no espelho;
Há mais uma batalha e uma guerra a serem criadas para se vender e se comprar tecnologias;
Há o Segredo da Existência que me confidenciou as mãos de Caim;
Há o sangue que grita em meus neurônios de todos os assassinados na humanidade;
Há as asas da Violência brutal e imperdoável que irão pousar em teus ombros;
Há uma doença incurável que me corrói todo o corpo,
E até nos nervos das minhas ideias: jamais saberás;
Há Leis para serem desobedecidas e desordens para ser acatadas;
Há o éden da inocência onde jamais voltarás a pisar, ver, sentir e lá viver: tua infância;
Há anáforas musicalizadas visando desaguar as matérias que ainda revestem o corpo e a mente;
Há um universo racionalizado em dispersão onde tudo continuará a fluir sem ti meu amigo.
Gilliard Alves Rodrigues