A poesia pulsa encarnada
A poesia pulsa encarnada,
derrama-se no corpo,
nada em lágrimas,
voa em risos.
Pinta a imagem de um mundo,
lenços de noites
e luas sublimes.
Raja a navalhadas
as mesas dos bares.
Canta como pássaros
de guardanapos de papel.
Alimenta-se de cada polegada do mundo.
Não conhece leis nem deuses
além dos de si mesma.
Flagela-se, mata-se,
nutre-se de feridas.
Vive suas agonias,
morre seus versos,
nasce dos rios
minados pelo devir.
É paisagem viva
do vale onde o homem alastra
sua bagagem de sombras,
seus amores podados.
Afunda-se num café
negro de asfalto
desafiando a faca
o gume de uma silhueta na fumaça.
Guillermo Abraham
São Paulo, julho de 2003