Volúpia insana!
No divino impudor da mocidade,
Por onde não se mensura a intensidade
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Tudo se dá com profunda lubricidade
Num frêmito vibrante de ansiedade,
À procura da melhor felicidade
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
Sacia-me com o teu que é o meu porte
A sombra entre a mentira e a verdade...
Resta-nos degustar a vencer preconceitos
A nuvem que arrastou o vento norte...
Nos unirá no clamor sem nenhum corte
--- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Que me embriaga e gosto de apor abraços
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Eu os agarro e contigo aqui tudo enlaço
Trago dálias vermelhas no regaço...
Nesse teu colo confesso que me embaraço
São os dedos do sol quando te abraço,
Mas não fujo ao contato e logo os traço
Cravados no teu peito como lanças!
As chamas em labaredas pelos penhascos
E do meu corpo os leves arabescos
Eu me entrego como menino no berço
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
No frenesi que é ardente desde o começo
Felinamente, em voluptuosas danças...
Eu te fascino e domino a qualquer preço!
Duo: Florbela Espanca e Hildebrando Menezes
Poema original de Florbela Espanca
Volúpia
No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
--- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...
Florbela Espanca