meu patinete

compressa, farinha

dor na espinha

chá de limão

constipação

doce de ameixa

pro intestino

quem não se queixa

do seu destino?

pingo da chuva

pra solidão

suco de uva

gaseificação

cabeça inchada

meu time perdeu

ou foi minha amada

que me esqueceu?

chave de fenda

punhos de renda

força e vigor

leveza e amor

papo de anjo

conversa fiada

toco meu banjo

na beira da estrada

noite escaldante

suor e calor

refrigerante

no congelador

a ponta da agulha

a linha esqueceu

a dor só entulha

se o amor não morreu

o meu patinete

desceu engrenado

não se usa gilete

pra abrir cadeado

não fala que eu grito

é que não escuto

eu quando me agito

é por pouco que luto

o peso do anel

não marca o dedo

se é do pincel

que a gente tem medo

meu olho abusado

penetra teu rosto

mas fica assustado

e eu perco meu posto

pois o teu semblante

é como a heroína

no início, excitante

depois desanima

me prende e me larga

me esfria e aquece

é o mel que amarga

o sol que escurece

é o doce momento

de que me alimento

é o ar que respiro

é o fim que sugiro

Rio, 09/11/2006