Renascimentos
Os olhos cegos e onipresentes com os quais Deus se vê
São os transmutativos olhares nítidos e lúcidos com os quais me vejo a mim próprio:
Interiorizando-me no Exterior do Todo,
Exteriorizando-me no Interior do Nada,
O Sujeito se subjetiva em todos os objetos onde seu próprio ser mergulha,
Mas nem todos os objetos se subjetivam no Sujeito.
O Sujeito se auto-afirma em sua negação sistêmica em alaridos pré-cognitivos,
As Contradições formam a essência da Identidade,
Porém a Essência da Identidade singulariza a biodiversidade das Contradições.
A Vontade expande sua liberdade na Inverdade,
E a Inverdade essencializa as ficções no âmago
Da Forma e do Conteúdo de cada elemento real e irreal,
Jorrando o sangue das substancialidades ontológicas em sinestesias imperceptíveis.
“Bereshit bara Elohim et hashamayim ve'et ha'arets”?
Quando a Doença nos acorda com o cajado de sua cura,
E o Inferno é o tenro, florido e transcendente Paraíso Perdido
De todas as mentes acolhidas no colo materno e afetuoso da Morte,
E a decrépita Vida é estrangulada por suas próprias ilusões paridas,
E todos os Livros do Pseudo-Conhecimento se lançaram do cume da Montanha da Incerteza,
E um Cântico regozijante evola-se por entre os desfiladeiros da Angústia,
Ressuscitando a fé no duvidar e questionar a Tudo dos Poetas e Filósofos,
Celebrando a Aniquilação das fontes prismáticas do Éden,
E finalmente o Sagrado beija os pés das entranhas melódicas do Pecado,
E novos Caminhos, novas Portas, novos Oceanos e Idéias florescem e rebentam
Nos desertos congelantes da alma onde ancoram
As raríssimas Mentes deste mundo atrofiado,
E havia uma hermética aurora eufonicamente pulsante
Nos sorrisos das mães que pranteavam a morte de seus filhos
Nas batalhas intermináveis do Cotidiano
Em nossas vias-crúcis proletariamente irregistradas;
Nos Campos imutáveis e inacessíveis de Lírios
Onde a Inocência de nossa Infância corre de braços abertos,
Para que enfim renascêssemos no Fogo vivificante
De nossa auto-supressão, semeada na aridez hostil de Humos
De nosso turvo Ser, através de nossas próprias Mãos.
As Cinzas ofuscantes do Pretérito Im-Perfeito
Sussurravam-me um segredo hediondo no sarcófago de minha Sensatez Delirante:
“Comamos, e alegremo-nos. Pois este meu filho estava morto e reviveu,
Tinha-se perdido, e foi achado.”
Acaraú, 24 de Março de 2011. (4:22 da manhã)
Gilliard Alves Rodrigues