Luz e Sombra

Acendo a luz.

Os contornos da sala se definem

em móveis, quadros e outros objetos

que antes no escuro dormiam sossegados.

Eu sei que são apenas objetos, mas exprimem

com invejável perfeição velhos afetos

e com perfeita exatidão tempos passados.

Sento-me.

E deixo os olhos correrem ao redor,

encaixando cada peça em seu momento

num verdadeiro jogo de memória,

que o coração repete e sabe até de cor,

pois tão bem gravado está no pensamento

de tudo aquilo que foi a minha história.

Apago a luz.

E sinto que, no escuro,

as coisas se recolhem com ar resignado

ao seu lugar nas paredes e no chão,

enquanto eu, também acostumado

com a penumbra que vejo em meu futuro,

vou caminhando à luz de uma ilusão.

Amaury Nicolini
Enviado por Amaury Nicolini em 23/03/2011
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