Luz e Sombra
Acendo a luz.
Os contornos da sala se definem
em móveis, quadros e outros objetos
que antes no escuro dormiam sossegados.
Eu sei que são apenas objetos, mas exprimem
com invejável perfeição velhos afetos
e com perfeita exatidão tempos passados.
Sento-me.
E deixo os olhos correrem ao redor,
encaixando cada peça em seu momento
num verdadeiro jogo de memória,
que o coração repete e sabe até de cor,
pois tão bem gravado está no pensamento
de tudo aquilo que foi a minha história.
Apago a luz.
E sinto que, no escuro,
as coisas se recolhem com ar resignado
ao seu lugar nas paredes e no chão,
enquanto eu, também acostumado
com a penumbra que vejo em meu futuro,
vou caminhando à luz de uma ilusão.