Visões sobre mim
Sou um canto mudo nas manhãs tortas de julho.
Sou saibro crespo que mancha os alvos calçados das meninas que brincam.
Sou da noite a estrela fria que absorve em si espirais aconteceres.
Sou baralho de Tarot que da sorte trouxe a força do “tener”.
Sou nuvem clara pestanejando a brisa seminal.
Sou gado novo do pasto arado de manhãzinha.
Sou frugal amendoeira que as tardes sacudo as folhas para que caiam.
Sou feroz fera felina trazida enjaulada d’um Saara escondido.
Sou sol forte, brilhoso de luminosidade densa e nobre.
Sou suave neblina, tíbia e serena a levitar pingos de chuva de outrora.
Sou pés desnudos de uma jovem bacante em noite de luar.
Sou um para-raio de insensatez turbulenta e temerosa.
Sou um “black” teatral anunciando a chegada do próximo ato.
Sou um lázaro recente trazido à vida por um Cristo anônimo.
Sou tezão escondido sob a máscara negra social.
Sou seio tímido de moleca colegial experimentando o primeiro “soutien”.
Sou rubro calor do sangue latejando amores passados.
Sou negro ardor da noite rastejando lutos temporais.
Sou estúpido cupido chamado às pressas para afazeres cognitivos.
Sou vestido longo usado somente em sonhos juvenis.
Sou ferida aberta em dor e em fé.
Sou a cor do cabo sul de uma certa ilha.
Sou torto, porém Sou vivo, Sou quase crise, Sou turbilhão.
C.A.D. S.T.C.