HERBIESSÊNCIAS DO SER (TRIETO)

Após um longo período que me ausentei deste espaço e do qual já sentia saudades, volto em excelente companhia, a de dois grandes poetas, a quem tenho imenso orgulho de chamar de amigos. Herbiessências do ser nasceu da afinidade poética, do gosto pelos temas transcendentais e da confiança de cada um de nós pelo outro. O poeta do deserto e o médico de almas me proporcionaram imensurável prazer por esta parceria, a qual carinhosamente chamamos de trieto.

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Raiz, caule, folhas...

Da raiz das palavras ergue-se o caule em versos, dá vida à poesia em profusão, como as folhas em frondosa copa, a nossa inspiração.

No solo profundo, enlaçados os braços e cingindo torrões como um abraço, vasculhando o âmago de cada fissura, sorvendo a seiva bruta infiltrada nas entranhas e fixando-se como se garras fossem,

os pilares da sua sustentação.

Às vezes na terra rasa, entre pedras ou lamaçais, espalhada em finas ramas, penetrando em sulcos brandos, extraindo os sais e água da terra, elaborando o sumo, o alimento que fará brotar as sementes, que grávidas parirão os caules fortes e rijos, ou frágeis e maleáveis, ainda assim, troncos que conduzem a vida e às folhas sustentarão.

Do húmus, a fertilidade que faz crescer a raiz. Da alma a poesia

faz seu terreno mais profícuo. Interpenetrando os meandros dos sentimentos, sugando a essência e deixando que se irradie nas profundezas, se fixe e ao coração do poeta dê sustentação.

Às vezes na superfície, entre dores, inquietudes ou desilusões, sulcando trilhas, a poesia extrai da alma a emoção, elabora sonhos, arquiteta ilusões, o sumo que fará brotar as palavras, que grávidas parirão os versos, com rimas ou não, ainda assim, alimento do poeta, que lhe dará vida e o sustentarão.

*Celêdian Assis

Da semente encravada, persistentemente enraizada me fiz caule com um esperançar são, ergui-me do solo, cumprimentei minha sina e as intempéries com determinação, húmus gracioso, salutar, doce estímulo, água farta outras vezes seco chão, aprendi com os ventos que continuamente ensinam, a vida é brisa, outras horas tufão.

Pedregulhos vorazes, infortúnios, pragas famintas aflitas, lagartas astutas a espreita da saciação, formigas ligeiras que driblam com destreza minha haste sensível, utópica persistência, resisto às incertezas mescladas a versos sãos.

Há de ter tempos mais amenos, horizontes com plenos devaneios, intensos saboreios de se vencer na imensidão, solitude amiúde, que confunde, elixir aquoso que me nutre, um sonhador combatente do duro chão.

Eis que o duto moldado pelos esperançares confusos, agudos soluçares entoados, ao pretexto de dias melhores que surgirão, carapaça enraizada, enrijecida, na espreita de sobrevida, que valha quaisquer resquícios de esperançar são, seiva elaborada, substância sutilmente formada das dores severamente tragadas dos ventos cruentos que me induziram do chão.

Galhos espalho, persistentes flâmulas caridosas sombreando quem há de desfrutá-los. Não me recordo mais dos meus herbidoloridos calos, das ervas daninhas incentivadoras dos vis fialhos, mantenho-me erguido transportando elixires raros, sou ponte, o caminho sem contramão aos desabrochares vários, eis a minha mais que perene condição.

*O Poeta do Deserto

Absorvo da água da vida que cede à raiz, do caule a força, e folha me fiz. Espelhei no retrato de minha imponência a sustentação recebida, sou vida em regalo, fruto do meu chão.

Das inconstâncias fui dissipado, do mais puro alimento recebi,

ora brisa que abranda em firme caule, ora vida que reflete a raiz.

Ainda que por vezes da terra ingrata, do solo infértil e hostil, seja incerta a prole; da união que infiltra o chão e em caule sobe, surge a vida em folha refletida, espelhos d’alma, fusão solene deste ser.

Resplandece em copa a razão da existência, feito braços ao vento,

colhendo gotas por excelência, gotas da brisa da seiva e do orvalho,

do banho de lua e seu prateado.

Exalando esperança, inebria o ar, e na alegria do momento parece dançar, levada pela canção clássica, suporta chuva ácida, protegendo aos que foram para consigo e neste ciclo onde da raiz a vida surgiu, segue continuadamente a luta pela sobrevivência, somada ao caule neste ser único.

Raiz, caule e folha alimento do alimento que alimenta...

A nossa árvore da vida.

*Médico de almas

Celêdian Assis, Felipe Padilha e o Poeta do Deserto e Médico de Almas
Enviado por Celêdian Assis em 24/02/2011
Reeditado em 29/03/2014
Código do texto: T2812788
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