Onde estou?
Atrás das sombras da noite;
Entre arbustos do pântano e seus segredos medonhos.
Entre as nádegas de um viver minguado, chorado, cansado.
Se sou forte? Devo ser, devo aguentar
Alguns judeus resistiram à paranóia de um alucinado
Pela miscigenação.
Robson Crusoé venceu a desolação num mundo diferente do seu.
Hiroxima mesmo com algumas sequelas conseguiu resistir à destruição atômica.
Quanto a mim não sei se posso com a desolação, estou tentando.
Numa galáxia fora da substancialidade imprensada entre um pilar e outro
De uma construção abandonada sobre a colina de pedras soltas.
Cambaleando na linha do Equador ou numa parábola longa
De todo os dias ter que renascer.
Estou dormindo nos braços da discrição envolvido como o travesseiro
Em sua fronha, clandestino em um navio cargueiro rumo a lugar nenhum.
Nas bordas do vento,
No socialismo displicente de Cuba;
Na proeza dos Africanos colhendo grãos escassos de felicidade, sofrendo
Os repúdios do exterior.
Na magia dos aborígenes cravados na Austrália manto vivo encantado
Pela força sobrenatural do seu povo.
Entre guerreiros desta terra morta, Ava – canoeiros invisíveis como eu
Sofrendo contra a extinção de sua espécie. De uma tribo extremamente grande
Sobraram vinte apenas, das histórias sobraram varias, dos sonhos nenhum,
Dos desejos tão pouco e do viver? Apenas o restante que sobrou já abusado.
Estou na sede insaciável do mandacaru e do nordeste inteiro;
No lado vazio da ampulheta;
Na parte amarga do não ter.
No entanto, confesso que queria está nas asas de uma borboleta;
No abismo do sem-fim;
No deserto do universo;
No ofuscar de qualquer vaga-lume.
Mas a única empáfia no círculo a me devorar é o orgulho
Insano de querer ser o que não sou.
Onde posso está? Já sei!
No funeral da divina loucura que me tem como escravo.
Na fatia mofada do prazer renegado pelo fato de não ter o motivo concreto do existir.
Na literatura ultrapassada, empoeirada, desengajada de amar;
Na uniformidade de sofrer com o concretismo da solidão acoplada ao tédio.
Para quem me procura
Não quero ver ninguém.
Se for poeta
Estarei no abismo do sem-fim.
Se for amigo
Estarei à deriva de mim mesmo
Entre o ser e não ser.
Se for família
Estarei no resultado
Da divisão de um numero qualquer por zero.