Homenagem Póstuma a um Amor

Tenra idade e já parte este amor,

pereceu apesar da ternura, do apego, das promissões

e eu o vejo seguindo no cortejo que segue rumo ao horizonte...

Teve uma vida curta, breve, fugaz e intensa.

Propensa as artimanhas e façanhas. Usou de muita manha.

Serviu-se no altar do cálice e do pão que lhe ofertara.

E a cada vislumbre sedutor logo se assanhava.

Irrequieto e imprevisível entregue às suas diabruras.

Segue belo como veio e pálido pela infusa enfermidade,

puro, totalmente angelical, incólume sentimento que nascera,

singular, posto não ter envelhecido e, assim, jovem falece.

Desencarnou sentimentos pueris, nobres e servis.

Sempre pronto às aventuras entregou-se à desmedida paixão.

Sóbrio e ao mesmo tempo impetuoso daí o seu suntuoso poder.

Que bom uso e abuso dele se valia com rapidez.

Ao coração resta a conformada viuvez,

esta que persegue as ladeiras por onde acompanho o adeus final...

Deixará lagrimas de saudades pelo pouco tempo de atividade

Cheio de sensualidade em que cada minuto era uma novidade.

À espreita uma canção, melodia dissipando-se pelo ar,

por certo a mesma que dourou de calor as sensações de outrora,

hoje menos fervente, avassalada pela indolência do momento que restou, em desatino, imprópria, inócua, tenta refazer, inglória,

antigas emoções...

Era um D. Quixote de La Mancha que montado em seu cavalo,

atravessava redemoinhos com sua lança a perfurar os ares...

Entoava seus cânticos e versos por todas as praças e bares.

Ainda se pode inaugurar alguma inadvertida lágrima

a banhar a sonhadora veste azul do perdido amor...

Garboso sedutor sabia como ninguém preencher espaços.

Sensível às células e na pele deixava marcas de suas sevícias,

tatuando nelas seus improvisos de convincentes carícias.

Urge-me homenagear esse intenso e nobre sentimento

que morreu nem sei por que razão...

Entendo que se esfriou como quem perdeu o sol e não mais se iluminou

e tudo isso antes, bem antes da sobrevida que lhe dei,

sobrevida cronometrada quanto durasse a vida...

O arrefecimento seria fruto de alguns indeléveis momentos?

De distração e esgotamento da libido pelo seu uso excessivo

Das entregas e esfregas do prazer mais que bandido.

A este ser extinto, instituidor de rico legado nem mesmo imaginado,

presto sentidas condolências, ele que fora concebido com nuances de eterno... Posto ter-se transformado em efêmero de verdade... Mas não se surpreenda se das cinzas vir a retornar com seu imprevisível impulso que a tudo domina e encanta.

Pois é destemido e valente, sempre preparado para o bom combate.

Ele que soubera crescer rápido e curar as duras feridas d’um coração adormecido, traduzindo alegrias insondáveis e indescritíveis.

Nada se compara à força que dele se desprendia em nuances de magia

No toque avassalador que a tudo invadia e corrompia no dia a dia.

Ele que se fez de risos fortuitos e imagens de tão longe transpostas.

Caminha, doravante, em busca de medonhas e encantadas reencarnações, se é que é possível vida após o amor.

Porém não duvide da sua performance que ressurge nas suas inevitáveis metamorfoses que surpreende em reviravolta .

Vem a cada nova fase da lua e se esparrama como as ramas de uma hidra abraçando a eternidade e cobrindo a tudo de saudades... Porque

foi estilhaço, rastilho, fogo em labareda que queima a alma e a deixa

na esperança de vir de vez matar a minha solidão.

Duo: Nalva Ferreira e Hildebrando Menezes

Navegando Amor
Enviado por Navegando Amor em 20/02/2011
Código do texto: T2804246