Medo

Sinto o medo como o frio.

Sinto o medo como o calor.

Sinto medo.

Sinto o medo como sinto a fome.

Sinto o medo como a mãe sente a sucção da cria no seio.

Enfim, sinto medo.

Sinto a lágrima escorrer sobre o rosto

Igual sinto o medo que a brotou.

Sinto medo por não poder ignorá-lo,

Por sua presença ser o que sou

Em estado de consciência.

Sinto o medo como sinto as palavras

Assim como com elas não o posso negar.

Não olhar o medo,

Fingir a inexistência de seu peso,

É já estar morto.

Às vezes tenho tanto medo

Que nem queria estar vivo,

Mas estou

E por isso sinto medo.

O medo é um dos meus motores –

Um dos que nunca enguiça.

Já senti alegria, já senti amor,

Já senti raiva e rancor.

Nossa primeira missão no mundo é sentir.

Então por que negar o medo

Que te traz saudade, que te traz vida?

Meu medo é meus cinco dedos da mão.

Sem o medo sou cego;

E sem o medo não sei olhar para o chão.

Sou tolo e feliz sem o medo

E triste e satisfeito com.

O medo pode tomar,

Mas o melhor de tudo é poder tomá-lo,

Dominá-lo e estimá-lo,

Pois medo não se mata.

Medo é seu café com pão,

A fome e a comida;

O alimento da sabedoria.