Insônia de minhas noites.
Insônia de minhas noites.
No campo lírico que me desperto
Meus olhos entreabrem-se em névoa
Coisas, sombras e sons me puxam o raciocínio
Que interesse este escuro teria em me sufocar
Minha confiança se perturba
Onde estou, quero lembrar
Minha liberdade é castrada
E há vezes que meu mundo foge
E eu fico na plataforma vendo sua partida
Imagens indefinem meus sentidos
Não sei se estou em sonho ou se a realidade é assim cruel e infiel
Vivo em ficção ou sou traído pela memória
Meu tempo apaga-se como a vela no candeeiro
O vento torna-se um açoite
Ao passar pelo meu corpo nú
Nada existe apenas o som do aparelho
Nada há de vida
Só desaparecidos
Só paredes divididas
Verde apagado e branco fosco
Minha respiração ofegantemente curta
O hospital aos poucos perde vida
Ouço ao longe algumas vozes que não dormem
A luz toma conta do espaço arrebatando o breu
Uma mão forte me arranca o lençol
E me sinto exposto pelo comentário das duas sombras em branco
Uma me puxa o braço a outra me toca as feridas
Sinto o frio da agulha
A agulha é agulha
Nem dor mais eu sinto
Não quero ir, mas meus olhos não me obedecem
Fecham-se...
Abilio Machado. 2008.