Poema esquecido

Eu tive a sensação de ter o poema mais lindo do mundo na ponta da minha língua...

mas ele se foi

À medida que as palavras apareciam na minha cabeça

aumentava o meu desespero

febre

mal-estar

vertigem

sensação de enjoo

Quando tentei recuperar as suas palavras

o poema desapareceu

como se fosse um feitiço

Agora eu não sou mais o mesmo

Em tudo o que escrevo carrego a saudade daquele poema perdido

a esperança de um dia lembrar

a frustração de não conseguir

Aquele poema teria mudado minha vida

e talvez teria mudado a tua também

Ouso dizer ainda que aquele poema poderia ter mudado o mundo!

Mas eu me esqueci

e ao me esquecer

fui eu

e não o mundo

que mudou

O mundo permanece o mesmo

ri dos poetas

banaliza o amor

(essa palavra tão banal)

Castiga o versos de Neruda

as prosas de Baudelaire

os sonetos de Vinícius

Mas eu não sou mais o mesmo

e fico me indagando:

Será que esses poetas também tiveram um poema transcendente na ponta da língua

e também se esqueceram?

Será que a obra deles não foi em busca de um poema perdido?

Será a minha vida assim?

Eu não sei

e quero mais que tudo neste mundo me lembrar daquele poema

Mas eu não me lembro

e talvez nunca me lembrarei

mas eu sei

que aquele poema

esquecido e perdido

que poderia ter mudado o mundo

acabou mudando

o

meu

mais

profundo

ser

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Postado por Bartolomeu Parreira Nascimento às 17:55 1 comentários Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no Google Buzz Links para esta postagem

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QUARTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2010

Minha matilha

O meu amor

não querendo mais ser amor

transformou-se em mágoa

Descobri que é mais fácil assim

sentir um mínimo de raiva

Não há como não sentir nada

Eu sei

Então tento ser o pastor dos meus sentimentos

mas o meu rebanho é uma matilha

Subversiva

Não aceita minha autoridade

Não aceita ser perdoada

nem estende o seu perdão

É como água suja

Um calor em que eu não consigo respirar

Um frio em que eu não quero viver

Onde eu vou meus lobos me acompanham

se alimentam da minha carne

lambem minhas feridas

Bebem minhas lágrimas

Cada tanto um deles foge do meu peito

mancha com seu sangue a monotonia do papel

e agonizando

morre em tristes versos fadigados