Mãe
Vou ver se consigo inventar
Novas cores e aromas,
Novos amores.
Vou ali dentro ver se invento
Novos sabores e pratos,
Novo alimento.
Vou colocar novas roupas,
Cortinas, toalhas,
Vou ver se não molho tanto o meu lenço,
Se acalento algum sonho,
Se descanso um pouco na rede,
Leio um livro, faço uma prece,
Se ando um pouco no quarteirão,
Tomo um pouco de sol.
Será que ainda chamo os vizinhos?
Adianta esticar a prosa,
Pôr um disco, olhar a rua,
Procurar um amigo, alheio abrigo?
Mãe, que desespero é esse
E angústia e dor
De tudo e nada querer mudar?
Em tudo a senhora está,
Não quero nem devo esquecer,
Só quero tocar a vida
Ou deixar que ela vá.
Sei que a senhora vai comigo
Nas lições que em tudo deixou,
No esmero com que preparou
Cada dia do nosso viver.
Vai um pouco de mim nas coisas
Que juntas fizemos, falamos,
Nas risadas que demos,
Nas orações que rezamos,
Na Palavra que buscamos.
Em tudo, Mãe,
Há um pouco de nós
E dos nossos.
A senhora, mais perto de Deus,
Nós, apertando o passo, o peito, os olhos
A ver o caminho
Agora mais triste,
Mas sabendo que existe
Um Deus que nos une
Na Comunhão dos Seus.
Então nossos andares se cruzam,
Então a constatação, a Luz:
Estamos na mesma Estrada,
Faremos as mesmas paradas,
Viradas, contorno,
Em torno da mesma Mesa;
Faremos preces de intercessão
E agradecimento; entoaremos
Hinos de louvor e graça,
Partilharemos Pão e banquete
Quantas vezes quisermos,
Quem o diz, Mãe, é Jesus!