Passarada
Meu sorriso de criança,
Pijaminha de flanela.
Um correr despreocupado,
Tempo tão desocupado,
Uma vida muito bela.
A pelada todo dia
E a hora do almoço.
A igreja e muito medo,
Acordar de manhã cedo
Pra buscar água no poço.
E as idéias que eu tinha:
Faça aquilo que gostar.
Come muito todo dia,
Corre atrás da alegria,
Chora se ela não achar.
E hoje o meu pensamento?
Crê em tudo da ciência,
Crê num Deus que é um mistério,
Crê somente em cemitério
E vai vivendo de aparência.
Mas Margarida me surgiu
E começaram as alegrias.
Fiz um mundo só de flor,
Achei que achei o amor,
Mas vieram outros dias.
E eu vendia limonada
Pra ter pipa de papel
Pra cruzar e pra vencer,
E hoje para não perder,
Compro o estudo e o anel.
E a nossa bola era de meia.
O nosso campo, a avenida.
Chuva à toa não valia,
Hoje o sol trouxe a alegria
Que passou despercebida.
Mas tem santo de madeira
Nas igrejas de Ouro Preto.
Na TV, noticiamento.
Pátria em desenvolvimento,
E estamos todos no coreto
Rio, 06/10/1973