Pedra
Pedra
Tendo vivido um homem
uma vida inteira,
o que terá sido um homem
e o que é uma vida?
Estes mansos versos
que falam de vida e vagas
enquanto dormem selvagemente
sob a luz do sol
ou sonham instavelmente
debaixo da luz falha das estrelas:
natureza de pedra dura
e corpo frágil de malacacheta
(pedra que se desfolha em luz,
sem ter folhas)
Estas mancas sentenças
pulsando incógnitas
estas sílabas manchadas
de luz e memórias
vergando e, sinalizando
sob o peso e a lixa do tempo...
A memória é só fuga e adiamento
a história é só fábula e invenção
E a fábula serve ao homem
mas não ao seu impreterível destino
Um dia, se extinguem a memória,
a história, a fábula, o tempo,
as pedras e os dias
Restará deste mundo
só a mais antiga das sabedorias
do pó que vira pedra
e da pedra que vira signo
e depois, volta ao pó
sob o manto do Mistério
Restará de mim
somente a sabedoria do minério
que sobreviviu ao homem
e aliou-se ao pó
(que sabe de ser instabilidade,
pedra e nada)
sob o manto da Esperança
E de meus versos, que restará?
Pudera, um instante de sol
sobre suas frágeis lâminas
antes da inexistência
ou extinção*.
- Depois do susto da leitura de dois versos seminais, escritos por Hiléia.